Brasil ganha antiprêmio Fóssil do Dia na COP

  • O anúncio de adesão do Brasil à Opep+, feito no primeiro dia da COP28, levou o país a receber o antiprêmio “Fóssil do Dia”;
  • Serão leiloados em 13 de dezembro, um dia após o fim da conferência internacional, 603 novos blocos de petróleo no Brasil;
  • O troféu é concedido pelo Climate Action Network (CAN), que congrega 1,3 mil ONGs em 120 países.

Havia uma expectativa positiva sobre a participação do Brasil nesta edição da COP28. Afinal, o país reduziu o desmatamento na Amazônia em 22%, corrigiu a a “pedalada” da NDC e assumiu a presidência do G20 por um ano. Entretanto, a decisão do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de anunciar a adesão o Brasil à Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) no primeiro dia da conferência internacional foi um balde de água fria.

O anúncio acabou resultando do recebimento do antiprêmio Fóssil do Dia, conferido hoje (04/12) em Dubai pelo Climate Action Network (CAN) ao país. A instituição congrega 1,3 mil ONGs em 120 países e durante as negociações das COPs, os membros da CAN votam nos países que fizeram o ‘melhor’ para bloquear o progresso nas negociações. Não é a primeira vez que o Brasil recebe o prêmio de “escárnio”. O governo de Jair Bolsonaro foi selecionado em 2021 como a delegação que mais prejudicava o clima na Conferência de Glasgow.

De acordo com o Observatório do Clima, serão leiloados 603 novos blocos de petróleo, em 13 de dezembro, apenas um dia depois do término da COP28. “Isso não pode ser coincidência, certo? A corrida do Brasil pelo petróleo mina os esforços dos negociadores brasileiros que estão tentando quebrar impasses antigos e agir com senso de urgência”, segundo o Observatório,  rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 90 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais.

Repercussão

“Ao reduzir o desmatamento em 22% em apenas 11 meses no cargo, o presidente Lula deu uma das contribuições mais significativas para mitigar o aquecimento global em 2023. Porém, com um grande poder vem uma grande responsabilidade. Não se pode liderar o Sul Global contra a crise climática investindo no produto que a causa.”
Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima

“Embora o Brasil almeje o protagonismo climático, sua postura contraditória ao entrar na OPEP+ reduziu os trunfos angariados com a redução do desmatamento e os planos e políticas climáticas anunciados. A premiação deixa claro que a imagem do Brasil não está tão boa como esperado e é um sinal de alerta para todo o mundo sobre o real comprometimento do país que sediará a COP 30, quando todos os países deverão apresentar novos compromissos de corte nas emissões. O mundo todo olhava para o Brasil com esperança de ter um novo líder climático e a turnê petroleira que o governo fez a caminho de Dubai foi um duro golpe nessa esperança.”
Alexandre Prado, líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil

“O Brasil veio à COP28 para recuperar sua credibilidade e se posicionar como liderança climática global. Nossos negociadores estão defendendo com unhas e dentes o objetivo de limitar a temperatura em 1.5 °C. Mas queimaram nosso filme com o combo de leilões de mais de 600 blocos de petróleo, a entrada na Opep+ e potencial anulação dos resultados de mitigação de florestas pela exploração fóssil.”
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa

“Lula foi à COP28 para tentar projetar uma imagem de liderança climática e aumentar as expectativas para a COP30 na Amazônia, mas o anúncio do flerte do Brasil com a OPEP+ jogou água fria nesses planos. Ainda há espaço para mudanças, mas precisaremos de uma posição clara do governo brasileiro para acabar com o petróleo, o gás e o carvão. Já ganhamos o prêmio ‘Fóssil do Dia’, mas podemos evitar ser os dinossauros da década.”
Peri Dias, representante brasileiro da 350.org na COP28

Sobre o antiprêmio

A premiação foi apresentada pela primeira vez nas negociações climáticas em 1999, em Bonn. Durante as negociações das COPs, os membros da CAN (Climate Action Network) votam nos países que fizeram o ‘melhor’ para bloquear o progresso nas negociações nos últimos dias de conversas.

CAN destacou o anúncio da adesão do Brasil à Opep+ no primeiro dia da conferência e afirma que o país parece ter confundido a produção de petróleo com liderança climática, ressaltando que a corrida do país pelo petróleo mina os esforços dos negociadores brasileiros em Dubai, que estão tentando quebrar antigos impasses e agir com urgência.

“Brasil, não queremos um tour pelos campos de petróleo quando estivermos em Belém em 2025. E, se vocês só querem se juntar a clubes, podemos sugerir que sigam o exemplo do vizinho, Colômbia, e se inscrevam no Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis em vez da Opep+”, diz a organização.

Fonte: Com assessorias de comunicação

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