Indígena apresenta corante à base de mandioca

  • Pesquisador e design Sioduhi Piratapuya apresentou no salão Inspiramais corante natural à base de raspas da casca da mandioca
  • Matéria-prima é 100% biodegradável e já foi utilizada em duas coleções de sua empresa Sioduhi Studio.
  • Imagem: Divulgação
Coleção Amõ Numiã: Ontem,
Hoje e Amanhã.

A 29º edição do salão Inspiramais traz mais de mil materiais para as indústrias de calçados, confecções, móveis e bijuterias entre os dias 23 e 24 de janeiro em Porto Alegre (RS) e chama a atenção pela sustentabilidade. Logo no primeiro dia de programação de palestras, o pesquisador indígena e designer Sioduhi Piratapuya apresentou a tecnologia Maniocolor, um corante natural à base de raspas da casca da mandioca.

Sioduhi é do povo originário Piratapuya, do território do Alto Rio Negro, Amazônia, e ressaltou que o projeto faz parte da sensibilização sobre o uso sustentável do potencial da floresta. Citando dados alarmantes, como as mais de 90 milhões de toneladas de resíduos têxteis descartadas nos últimos anos e o fato de 17% a 20% da poluição das águas serem provenientes de tingimentos e tratamentos de tecidos, Sioduhi foi enfático na busca por novas soluções mais sustentáveis.

Pós-graduando em Negócios e Estética da Moda na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (IUSP), o estilista criou uma marca cuja referência é o futurismo indígena, um movimento comprometido com o resgate dos saberes ancestrais dos povos originários associado a obras relacionadas a novas tecnologias. Em entrevista ao Jornal da USP, Sioduhi contou que o interesse pela moda teve inicio em sua comunidade, “onde existiam escolas de alfaiataria e as peças eram concebidas com materiais naturais.”

“Nascemos com o comprometimento de implementar soluções sustentáveis para a Amazônia e foi a partir daí que passamos a pesquisar os tingimentos naturais que respeitassem toda a nossa biodiversidade.”
Sioduhi Piratapuya, pesquisador indígena e designer

Tecnologia ManioColor

O corante natural é 100% biodegradável e pode ser considerada uma alternativa sustentável ao corante sintético, produto que contamina as águas e é prejudicial para as florestas. A mandioca-brava é uma espécie tóxica para o consumo por humanos e animais, tem pigmentação forte e oferece potencial de reaproveitamento e replantio, fatores positivos para sua nova destinação no universo da moda.

O corante desenvolvido por Sioduhi já é aplicado em tecido com uma paleta de cinco cores e em breve poderá ser utilizado também em fibras de tucum, um material sustentável utilizado pelas populações do Alto do Rio Negro.

Moda com propósito

Pesquisador e designer indígena Sioduhi Piratapuya

Para Sioduhi, a Amazônia tem um potencial de uso sustentável que pode mudar a realidade da moda mundial. No caso do corante de mandioca, o insumo foi utilizado em duas coleções do Sioduhi Studio, empresa fundada pelo indígena. Em 2022, foi apresentada a coleção Manioqueen e no ano passado a coleção Amõ Numiã: Ontem, Hoje e Amanhã.

A meta em 2024 é expandir o processo na na floresta amazônica, com projetos visando a comercialização do material e colaborações com marcas do segmento da moda. Em live no SustexModa, Sioduhi afirma que não pode colocar à venda “algo que é sagrado

“Voltei para a Amazônia há cerca de um ano para ajudar a mudar a realidade da floresta e do povo indígena.”
Sioduhi Piratapuya, pesquisador indígena e designer

O salão| A 29ª edição do Inspiramais, salão que reúne mais de 150 expositores de insumos e materiais que devem receber a visitação de mais de 7 mil pessoas do Brasil e de parte do mundo no Centro de Eventos FIERGS, em Porto Alegre/RS, é uma promoção da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) em parceria com o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e Associação Brasileira das Indústrias de Mobiliário (Abimóvel). A realização é do programa Brazilian Materials e a parceria do Sebrae Nacional.

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