- Pesquisa apura percepções sobre os parques naturais brasileiros e revela que um terço da população nunca visitou nenhum dos 569 existentes no país;
- Entre as barreiras estão desinformação, distância e custos, segundo a pesquisa “Parques do Brasil – Percepções da População”, divulgada pelo Instituto Semeia;
- Esta é a quarta edição do estudo que ouviu 1.539 braisleiros de dez regiões metropolitanas do país entre julho e agosto de 2023.
- Imagem: Parque Nacional da Serra da Capivara – Piauí. Crédito: Dani Sànttos/iStock
O Brasil tem 569 parques naturais e cerca de um terço da população ainda não esteve em um lugar como esse. Os dados são da pesquisa “Parques do Brasil – Percepções da População”, que acaba de ser divulgada pelo Instituto Semeia. Com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIo) e do Instituto Ekos Brasil, a quarta edição do estudo ouviu 1.539 brasileiros e brasileiras de dez regiões metropolitanas do país, entre julho e agosto de 2023, para entender como percebem, interagem e refletem sobre as condições dos parques naturais e urbanos.
A pesquisa também perguntou sobre o conhecimento e a vivência em parques urbanos. Apesar de todas as regiões metropolitanas alcançadas pela pesquisa possuírem parques urbanos, 20% das pessoas não mencionaram conhecer nenhum espaço como esse. Para a coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia, Mariana Haddad, “este cenário expressa o desafio de impulsionar a visitação nos parques brasileiros junto à opinião pública, enfrentado por gestores e especialistas dessas áreas”.
O estudo também revelou que, apesar de estar na lista, o meio ambiente está longe do primeiro lugar no ranking das principais preocupações da população brasileira. Em primeiro, aparecem os crimes e violência contra pessoas (53%), seguido de qualidade da educação e no atendimento à saúde (47%). São aspectos de menor preocupação a proteção ambiental (21%), poluição e mudanças climáticas (18%) e acesso à água limpa e ao saneamento (16%).
Quando perguntadas sobre temas ambientais de maior interesse, 81% das pessoas entrevistadas responderam “poluição das águas”; 76% “estilo de vida saudável”; e 73% “conservação da fauna e da flora”. Mesmo os temas ambientais menos mencionados tiveram 43% das respostas, indicando interesse do público com a agenda ambiental e oportunidade para mobilizá-lo.
Motivações e barreiras
Parques naturais – A coordenadora geral de Uso Público e Serviços Ambientais do Instituto Chico Mendes, Carla Guaitanele, ressalta a importância dos dados apresentados pela pesquisa com relação aos parques naturais, tanto para entender motivações e barreiras à visitação quanto para oferecer insumos à construção de políticas públicas ligadas ao tema.
“Os Parques Nacionais têm apresentado um aumento real de visitas a cada ano demostrando maior interesse das pessoas em ambientes naturais apesar de ainda aquém do que vislumbramos. A pesquisa Parques do Brasil, realizada pelo Instituto Semeia, colabora com o aprimoramento das políticas públicas de visitação em nossos parques, diagnosticando frentes que devemos dar maior atenção.”
Carla Guaitanele, coordenadora geral de Uso Público e Serviços Ambientais do Instituto Chico Mendes.
De uma lista com 16 nomes de parques naturais, os mais lembrados foram Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA) (lembrado por 53% das pessoas entrevistadas), Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO) (por 50%) e Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA) (por 48%).
Segundo Mariana, a lembrança pelos parques na lista pode estar relacionada a diferentes fatores, desde a visitação, em si, quanto a exibição de imagens na mídia. Para ela, “o baixo reconhecimento desses espaços pela sociedade é um dos entraves do turismo em parques e abre espaço para desenvolvê-lo com mais divulgação dos parques e seus benefícios”.
Referente às visitas realizadas a parques naturais no último ano, o levantamento identificou um aumento (44%) em comparação ao ano anterior (27%), possivelmente devido ao momento pós-pandemia. Ao mesmo tempo em que a pandemia diminuiu as visitações com as restrições sanitárias e a redução na renda da população, trouxe reflexões relativas à relevância destes espaços para a manutenção da saúde física e mental, assim como a qualidade de vida.
Quanto às motivações às visitas aos parques naturais, as três primeiras foram o contato direto com a natureza (36%), mostrá-la aos filhos (22%) e indicações de familiares e amigos (21%), seguidas de atrativos e atividades disponíveis nos parques, como esportes de aventura.
Para quem já visitou, o custo de deslocamento (33%), distância (22%), o custo com hospedagens (20%), a falta de informações sobre os parques (13%) e as atividades disponíveis neles (12%) foram apontados como as maiores barreiras. Quem nunca visitou também indicou custos com deslocamento (42%) e com hospedagem (31%), distância (20%) e desinformação (13%) como obstáculos para conhecer os parques.
Tanto as motivações como as barreiras, na avaliação de Mariana, “apontam oportunidades para que o setor turístico, as organizações ambientais e o Poder Público atuem, de maneira conjunta e complementar, para divulgar nossos parques”.
Parques urbanos – Acerca das visitas aos parques urbanos, 82% afirmaram já terem feito, sendo 49% no período dos últimos seis meses e 21% até uma vez por mês.
“Estes espaços têm grande potencial de lazer e recreação em meio à natureza, pois estão em áreas de mais fácil acesso quando comparados aos parques naturais, e são gratuitos”, afirma Mariana. “Vale destacar, ainda, que a visitação amplia a conscientização e o reconhecimento da importância dos parques”, completa.
As motivações que levaram as pessoas aos parques urbanos foram sair de casa e passear (motivos listados por 48%); descansar e relaxar (para 39% (e contemplar a natureza (para 29%). Atividades sociais e funcionais também atraem visitantes: levar as crianças para brincar (27%), caminhar ou correr (21%), encontrar amigos (18%) e fazer piquenique (16%). Atividades que podem ser praticadas em outros lugares também foram citadas: atividades físicas (10%); passear com pet e namorar (ambos com 8% cada).
Com relação às barreiras para visitação aos parques urbanos, 30% responderam distância, 21% preferência por ficar em casa, 14% preferência por outro tipo de passeio e 13% custos. Houve, ainda, impeditivos mencionados a respeito da zeladoria: banheiros e instalações ruins, má iluminação, falta de equipamentos de lazer e segurança.
Mariana também avalia a possibilidade de se ampliar a prática de atividades físicas, culturais e sociais nos parques urbanos e a percepção de valor do local, ao demonstrar o quanto agrega em qualidade. “Para tanto, temos de pensar estratégias para promovê-los. Muitos municípios brasileiros têm diversos deles como referências urbanas e de turismo com potencial para serem mais bem aproveitados”, ressalta.
Sensações de liberdade e paz
As sensações referentes à última experiência em parques, tanto naturais quanto urbanos, foram, na maioria, de liberdade, paz e natureza. Para avaliar esses sentimentos, a pesquisa considerou a média das respostas – e, nesse quesito, vale ressaltar que as experiências podem variar consideravelmente de um local para outro.
Quanto aos parques naturais, as avaliações dos 12 aspectos sobre zeladoria, serviços aos usuários e educação ambiental variaram entre 63% e 73% nas atribuições de ótimo e bom. Além disso, 66% atribuíram notas 9 ou 10 e recomendariam a experiência a familiares e amigos.
Sobre parques urbanos, 40% dos visitantes o fizeram no último mês, sendo 56% com visitas que duraram entre 1 e 3 horas. Os sentimentos foram de natureza, paz e liberdade. Zeladoria, serviços aos usuários e educação ambiental foram avaliados como bom e ótimo pela maioria, com notas 9 e 10, e 68% das pessoas entrevistadas recomendariam a visitação.
Políticas públicas
Uma parte das pessoas entrevistadas, 40%, concordam que o governo não dispõe de dinheiro suficiente para oferecer adequadamente os serviços que a população precisa, enquanto 75% acham o governo ineficiente na gestão dos seus recursos e 71% concordam que as parcerias do governo com instituições privadas melhoram o atendimento à população.
Quando se trata dos parques brasileiros, 79% das pessoas entrevistadas concordam que o turismo traz benefícios econômicos e sociais para os parques e seus entornos. Além disso, para 52% o governo tem questões mais prioritárias do que parques para direcionar o dinheiro público. Complementarmente, 58% concordam que o setor público é o mais indicado e eficaz para gerir a conservação da natureza e a educação ambiental nos parques, enquanto 60% concordam que o setor privado é o mais indicado e eficaz para gerir serviços e atrações turísticas nesses espaços.
Sobre concessões e parcerias
A pesquisa também avaliou a favorabilidade da população ao modelo de concessões/parcerias quando aplicado especificamente a parques, tanto naturais quanto urbanos. No caso dos naturais, 49% das pessoas se mostraram a favor, 22% são contra, 18% são indiferentes à adoção ou não desse modelo e 11% não opinaram. Para os parques urbanos, observou-se uma proporção maior de favorabilidade à adoção de concessões/parcerias: com 54% de pessoas se declarando a favor, 15% contra, 21% indiferentes e 10% que não se manifestaram.
Para além desses dados, metade dos participantes da pesquisa têm expectativa de que a gestão dos parques, tanto naturais quanto urbanos, iria melhorar ao passar por um processo de concessão/parceria.
Para a coordenadora de Conhecimento do Semeia, este cenário de certa favorabilidade e expectativas positivas com os modelos de gestão de parcerias entre os setores público e privado lança luz sobre a importância de engajar os diferentes stakeholders ao longo do processo de desenvolvimento desses projetos. Em outras palavras, é primordial garantir a participação e a escuta dos atores interessados nos parques e seus entornos.
“Esperamos que, com esta captação da percepção da sociedade sobre os parques do Brasil, os diversos agentes envolvidos com a pauta a considerem no planejamento, na implementação e no monitoramento das políticas públicas associadas ao cumprimento da missão dos parques: conservar a biodiversidade brasileira, além de incentivar o contato das pessoas com a natureza, por meio do turismo e da recreação”, conclui Mariana Haddad.
A pesquisa completa pode ser baixada em www.semeia.org.br.
Sobre o Instituto Semeia: | O Instituto Semeia é uma organização filantrópica, sem fins lucrativos, que trabalha para potencializar o desenvolvimento socioeconômico sustentável de parques e unidades de conservação brasileiras. Desde sua fundação, em 2011, o Semeia apoia governos na concepção e implementação de projetos de parcerias em parques, e promove diálogos entre governos, sociedade, iniciativa privada e entidades do terceiro setor para a viabilização dessas parcerias.