Seca severa assola o Amazonas

  • MapBiomas divulga nota técnica indicando redução significativa na área coberta por água no Estado do Amazonas.
  • Desde julho, especialistas têm alertado sobre o verão amazônico, associado às mudanças climáticas, ao El Niño, desmatamento, aquecimento do Atlântico Norte, trazendo consequências para a bacia fluvial.
  • Imagem: Rio Negro atingiu marca histórica de 13,59 metros, considerada a seca mais severa desde que foram iniciadas as medições hidrográficas na região. Crédito: Marizilda Cruppe/ Greenpeace

O mês de setembro registrou a menor extensão coberta por água no Estado do Amazonas desde 2018, de acordo com nota técnica divulgada pelo MapBiomas. Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélites dos sistemas LandSat e Sentinel e mostram que uma queda na superfície de água superior a 10 mil hectares em um grupo de 25 municípios. O ranking é liderado por Barcelos, no centro do Amazonas, (perda de 69 mil hectares entre setembro de 2002 e de 2023), seguido por Codajás (47 mil hectares), Beruri (43 mil hectares) e Coari (40 mil hectares).

Os pesquisadores mapearam pontos afetados de forma aguda. A seca no Lago Tefé culminou com a morte de mais de 100 botos e lagos inteiros secaram em áreas de várzea na RSEX Auati-Paraná. No Lago de Coari, a seca afetou o acesso a alimentos, medicamentos e o calendário escolar, enquanto entre Tefé e Alvarães, há agora extensos bancos de areia.

Perda de superfície de água com base em imagens do Sentinel 1 e 2

Segundo Carlos Souza, coordenador do MapBiomas Água e principal autor da nota técnica, a redução de água foi detectada em rios, lagos e em áreas úmidas. “O Amazonas encontra-se com alta vulnerabilidade a queimadas, o que aumenta o risco às populações e à economia”. Entre os fatores indicados por especialistas para a seca estão as mudanças climáticas, o desmatamento, os efeitos do El Niño severo em 2023 e o aquecimento do Atlântico Norte.

Segundo Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace no Brasil, desde julho, especialistas têm avisado que o chamado verão amazônico, combinado com a crise climática e o fenômeno El Niño, traria consequências dramáticas para a maior bacia fluvial do mundo. “O impacto nas populações do interior, na fauna e flora poderiam ser minimizados, por exemplo, com um combate mais intenso às queimadas”, afirma Batista. A intensa camada de fumaça no céu de Manaus e região e a baixa vazão dos rios têm dificultado a entrega de donativos para a população, além de acesso médico e suspensão do calendário escolar em várias localidades.

“É fundamental acelerar ações humanitárias dos governos para as populações da região em estado de vulnerabilidade social. Faltam alimentos, água e auxílio médico”.
Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil

Turismo suspenso

As comunidades ribeirinhas localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, distantes cerca de 1h30 de Manaus, têm enfrentado, além da seca, a poluição da fumaça dos incêndios florestais que aumentaram nesta temporada. Os efeitos da estiagem severa levaram polos turísticos de base comunitária como Santa Helena do Inglês e Saracá a reavaliar as condições de logística e estrutura para receber turistas durante este período de seca. Há dificuldade de acesso a itens básicos como alimentos e água potável. No lugar dos barcos, estão sendo usados tratores para o transporte.

Seca na Amazônia. Crédito: Lucas Bonny

“A gente teve que desmarcar reservas e devolver dinheiro. Eu nunca tinha visto uma seca tão forte assim.” Adriana de Siqueira, gestora da pousada Vista do Rio Negro

A pousada Vista do Rio Negro vai fechar as portas pelo próximos dois meses pela falta de condições. A gestora da pousada, Adriana de Siqueira, lamenta o impacto no negócio, que aquece a economia local. “Algumas doações estão chegando (para a comunidade), mas a gente não queria viver de doação, mas do nosso trabalho”, afirma.

A pousada, assim como outros empreendimentos turísticos na região do Rio Negro, foi implementada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com recursos do Fundo Amazônia. O objetivo da fundação é estimular o desenvolvimento do turismo protagonizado pelas pessoas que vivem nas comunidades, mantendo a floresta em pé e promovendo a prosperidade social.  

Ações humanitárias

Organizações da sociedade civil juntaram-se numa iniciativa chamada Aliança Amazônia Clima. Facilitada pela Fundação Amazônia Sustentável, a aliança está mobilizando doações de itens de primeira necessidade e destinando às comunidades mais afetadas pela seca. A Aliança Amazônia Clima levou 38 cestas básicas, que foram distribuídas para as famílias e regiões mais necessitadas mapeadas no território, segundo Valcleia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável da FAS.  

A Aliança Amazônia Clima está arrecadando alimentos não perecíveis, água potável e valores financeiros para compra de itens de necessidade básica em apoio às comunidades afetadas pela seca extrema na região.

O Greenpeace Brasil está trabalhando com parceiros para levar itens de primeira necessidade para as vítimas da seca extrema e prolongada na Amazônia. A campanha de arrecadações do Greenpeace, chamada Asas da Emergência, já garantiu mais de 3 toneladas de alimentos às populações do Médio Solimões. 

Os recursos reunidos estão sendo destinados à compra e entrega de suprimentos emergenciais, como alimentos e água para populações vulnerabilizadas pela seca – em especial povos indígenas e comunidades ribeirinhas.

Como ajudar

  • Aliança Amazônica Clima/ Fundação Amazônia Sustentável (FAS) – está arrecadando alimentos não perecíveis, água potável e valores financeiros para compra de itens de necessidade básica em apoio às comunidades afetadas pela seca extrema na região. As doações podem ser entregues na sede da FAS, localizada na Rua Álvaro Braga, 351, bairro Parque Dez, em Manaus (AM). As contribuições financeiras podem ser feitas por meio da chave PIX 03351359000188 – Fundação Amazônia Sustentável e pelo site bit.ly/doe-amazonia
  • Greenpeace – Campanha Asas da Emergência
  • SOS Amazônia – Doações para a Amazônia

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