Manto sagrado será devolvido ao Brasil

  • A indumentária Tupinambá está na Europa há mais de três séculos e há registros de outras 10 em museus europeus. Os artefatos foram produzidos nos séculos 16 e 17 e trocados por negociações diplomáticas ou saqueados durante a colonização. Não restou nenhum no Brasil.
  • Projeto Manto em Movimento é uma ativação para recepcionar a peça sagrada que será devolvida pelo Museu Nacional da Dinamarca para o Brasil em janeiro de 2024.
  • Projeto conta com uma exposição no Museu das Culturas Indígenas, em São Paulo, onde será exposto um manto sagrado confeccionado por Glicéria Tupinambá, na comunidade da Terra Indígena de Olivença (BA).
  • Imagem: Manto Tupinambá confeccionado por Glicéria Tupinambá. Crédito: Perola Dutra

 Entre 12 e 17 de setembro, o Museu das Culturas Indígenas (MCI) exibirá um manto sagrado confeccionado por Glicéria Tupinambá na comunidade da Terra Indígena de Olivença (BA). A indumentária integra o Projeto Manto em Movimento, ação de ativação para recepção do manto que será devolvido pelo Museu Nacional da Dinamarca para o Brasil em janeiro de 2024.

O Museu das Culturas Indígenas é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerida pela ACAM Portinari (Associação Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari), em parceria com o Instituto Maracá e o Conselho Indígena Aty Mirim. 

No MCI, o manto de Glicéria Tupinambá será recepcionado por representantes do Conselho Indígena Aty Mirim — composto por indígenas de diversas etnias e territórios do estado de São Paulo. Seus integrantes acolherão o ente sagrado para seu fortalecimento, já que a indumentária tem grande valor espiritual e ritual, considerada um parente divino vinculado ao mundo dos Encantados e à cosmologia Tupinambá, responsável pela conexão com as plantas, os animais, o passado e o presente.  

Conexão entre o mundo material e imaterial

A técnica ancestral para confecção se dá pela conexão Tupinambá entre o mundo material e imaterial — da feitura da agulha, do ponto do jereré à comunicação com os pássaros e à reconexão com as matas. O objeto é confeccionado com fibra de algodão, tucum, embebidas no mel, revestidas de penas de pássaro como o guará e a arara.  

Glicéria Tupinambá participará de palestra aberta 
ao público no MCI, em 14/09, às 18h. 
Crédito: Perola Dutra 

Para comentar sobre o significado do manto sagrado, a técnica ancestral do povo Tupinambá e a realização do projeto Manto em Movimento, o MCI receberá Glicéria Tupinambá, em 14 de setembro, às 18h, para uma palestra aberta ao público.  

A confecção dos mantos de Glicéria Tupinambá — artista, ativista, professora e intelectual, natural da aldeia da Serra do Padeiro — tem início em 2001, quando dois anciãos do seu povo, Aloísio e Nivalda, reencontraram um dos mantos presente na coleção do Museu da Dinamarca. Inspirada pela reconexão entre os artefatos, Glicéria confeccionou três mantos com o apoio da comunidade e a orientação dos mais velhos, com o intuito de reencontrar aqueles levados para a Europa.  

O reencontro proposto pelos mantos de Glicéria não trata de uma retomada material. Seu trabalho está conectado ao direito à memória e à ancestralidade, que permite exercer o direito de reaprender e reviver uma tradição, relembrando seu modo de feitura e dos rituais que a indumentária representa.  

Mantos na Europa

O manto Tupinambá que está no Museu Nacional da Dinamarca há mais de três séculos será devolvido para o Museu Nacional do Rio de Janeiro em janeiro de 2024. A indumentária é feita de penas vermelhas de guará costuradas em uma malha e mede cerca de 1,80 metros.

O retorno do manto para o Brasil contou com a articulação do embaixador brasileiro na Dinamarca, Rodrigo de Azeredo Santos, do Museu Nacional e da comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro, localizada na ainda não demarcada Terra Indígena Tupinambá Olivença (BA). 

Há registros de 11 mantos Tupinambás em museus europeus. Os artefatos produzidos nos séculos 16 e 17 foram trocados em negociações diplomáticas ou simplesmente saqueados durante a colonização. No Brasil, fisicamente, não restou nenhum.  

SERVIÇO 

Projeto Manto em Movimento: exposição 

Período: de 12 a 17 de setembro de 2023 

Horários: de terça a domingo, das 9h às 18h, e às quintas até às 20h 

Ingressos: disponíveis no site https://museudasculturasindigenas.org.br/ 

Museu das Culturas Indígenas    

Rua Dona Germaine Burchard, 451, Água Branca – São Paulo/SP 

Funcionamento: de terça a domingo, das 9h às 18h; às quintas-feiras até às 20h; fechado às segundas-feiras (exceto feriados)     

Telefone: (11) 3873-1541     

E-mail: contato@museudasculturasindigenas.org.br     

Sobre o MCI – Localizado na capital paulista, o Museu das Culturas Indígenas (MCI) é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerida pela ACAM Portinari – Organização Social de Cultura, em parceria com o Instituto Maracá e o Conselho Aty Mirim.     

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