- Em carta à comunidade internacional, André Corrêa do Lago faz um chamado global diante do fato de que a “mudança climática chegou à nossa porta, atingindo nossos ecossistemas, cidades e vidas cotidianas”.
- “A mudança é inevitável – seja por escolha ou por catástrofe”, afirma o texto de 12 páginas. “Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia, mas sim pela resiliência e pela agência em direção a uma visão que nós mesmos projetamos.”
- Imagem: Rafa Neddermeyer/ COP30 Amazônia
O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, emitiu um sinal de alerta à comunidade internacional sobre a urgência de serem tomadas medidas contra o aquecimento global. A carta inaugural de 12 páginas da COP30, divulgada em Brasília (10/03), faz um chamado global diante do fato de que a “mudança climática chegou à nossa porta, atingindo nossos ecossistemas, cidades e vidas cotidianas”. O Brasil será a sede e presidirá a 30ª Conferência das Partes (COP30) em Belém/PA, em novembro.
O documento afirma que “2024 foi o ano mais quente já registrado globalmente e o primeiro em que a termperatura média global ultrapassou 1,5ºC acima de níveis pré-industriais. Logo em seguida, janeiro de 2025 marcou o mês mais quente já registrado”. (…) “Afirmamos e reafirmamos que o aquecimento global é uma ameaça existencial à humanidade.”
“Da Sibéria à Amazônia, de Porto Alegre a Los Angeles, ela agora afeta nossas famílias, a saúde, o custo de vida e nossas rotinas de educação, trabalho e entretenimento. Imagens de desastres climáticos e sofrimento humano invadem nossa sala de estar, exibidas na TV e nas mídias sociais, à medida que entramos rapidamente em uma zona perigosa na qual os ricos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento se isolam atrás de muros resilientes ao clima.“
André Corrêa do Lago, presidente da COP30
Diante desta realidade, o presidente da COP30 faz um chamado global diante da necessidade da mudança, que é inevitável: seja por escolha ou por catástrofe. “Se o aquecimento global não for controlado, a mudança nos será imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famílias. Se, em vez disso, optarmos por nos organizar em uma ação coletiva, teremos a possibilidade de reescrever um futuro diferente. Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia, mas sim pela resiliência e pela agência em direção a uma visão que nós mesmos projetamos.”
A humanidade precisa de vocês
A convocação da carta é para as Nações Unidas, lideranças, governos, setor privado, sociedade civil, academia e tecnologia: “a presidência da COP30 os convida a participar do nosso ‘mutirão’ global. A humanidade precisa de vocês.”
O documento também incita pensadores, líderes espirituais, artistas e filósofos a ajudarem a “transcender mentalidades ultrapassadas, preservando valores compartilhados e invoando em direção a um renascimento planetário”.
“A humanidade precisa regenerar seu relacionamento consigo mesma e com a natureza à qual pertence.”

Repercussão
Para o Observatório do Clima, a carta traz um alívio e uma preocupação. O alívio é saber que as negociações do Acordo de Paris agora estão na mão de profissionais que entendem o tamanho do buraco em que a humanidade está metida na conjunção infeliz da aceleração da emergência climática com o maior retrocesso geopolítico global em 36 anos. A preocupação é ver que a única solução real para a crise do clima – a eliminação gradual, justa e equitativa dos combustíveis fósseis – ainda não consta na lista de prioridades da conferência de Belém.
O documento traz a visão da presidência brasileira sobre o processo da COP30 e faz um chamado a todos os países pelo trabalho conjunto (“mutirão”, cuja origem tupi potyrõ é lembrada pelo embaixador) contra a mudança climática. Deixa claro que o Brasil enxerga a COP30 como uma conferência diferente das outras: a primeira da fase “pós-legislativa” do acordo do clima, cujo livro de regras foi finalizado no ano passado em Baku com a definição sobre os mercados de carbono.
“Para que os combustíveis fósseis entrem na pauta da conferência será necessário um amplo processo de pressão e união sobre o tema. Apesar do cenário internacional adverso, a liderança do Brasil na COP 30 abre essa oportunidade. A carta da presidência diz que a COP30 pode iniciar uma inflexão na luta contra a crise climática e que podemos ganhar de virada. Para virar esse jogo, o Brasil terá que jogar no ataque.”
Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
Promete “estimular uma reflexão coletiva” sobre as NDCs, as insuficientes metas climáticas nacionais que precisam ser entregues neste ano, mas que não têm espaço formal de discussão na COP. E lista os itens de negociação que precisarão ter resultados ou avanços importantes em Belém, como transição justa, adaptação, mitigação e financiamento. (Leia aqui o posicionamento do OC)