- Nascente do maior rio do mundo, localizada numa área 28 mil hectares no Peru, está ameaçada pelo degelo na região da Cordilheira de Chila;
- Fundação Amazônia Sustentável e Sernanp (do governo do Peru), com apoio da SDSN Amazônia, estão se mobilizando para criar uma área de proteção ambiental na região.
- Imagem: Nascente do Rio Amazonas no Nevado Del Mismi, Peru. Crédito: Coordenação-Geral de Observação da Terra/INPE
A nascente do maior rio do mundo, localizada numa área de 28 mil hectares no Peru, encontra-se ameaçada pelo processo de derretimento das geleiras no Nevado Del Mismi, na cordilheira de Chila. Segundo dados do Instituto Nacional de Investigación en Glaciares y Ecosistemas de Montaña (INAIGEM), El Mismi corre o risco de desaparecer em 2027 devido às mudanças climáticas. Nos últimos 50 anos, o monte perdeu 99% de suas reservas glaciais, restando apenas 0,19 quilômetros quadrados.
Diante desta realidade, um grupo de entidades está se mobilizando para criar uma área de proteção ambiental no berço do Rio Amazonas. Estão envolvidos no processo o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas (SERNANP) do Governo do Peru e a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com apoio da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia).
No dia 26/10, foi realizada na cidade peruana Arequipa uma reunião para apresentar a proposta de criação da área de proteção do El Mismi. O encontro teve o objetivo de construir uma aliança mais ampla para apoiar a iniciativa e mobilizar os recursos necessários para concluir o processo, além de verificar recursos para proteger e apoiar o desenvolvimento sustentável das comunidades locais.
Outras ameaças
O derretimento das geleiras tem consequências graves para as comunidades locais, como mudanças no regime hídrico das lagoas naturais e riachos, riscos de avalanches e inundações, e a probabilidade de contaminação por produtos químicos presentes na crosta de gelo e montanha, ameaçando o ecossistema, os sistemas produtivos e a população. A região também é ameaçada pela atividade de mineração, que traz outra série de impactos ao meio ambiente e à saúde humana.
A proposta de criação de uma área de proteção em El Mismi teve iniciou em janeiro de 2014, quando o superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana, realizou uma expedição até a região e identificou a necessidade urgente de conservar aquele patrimônio natural.
Em agosto do mesmo ano, a FAS apresentou ao Ministério do Meio Ambiente do Peru a proposta de estabelcer uma área de proteção no local e ao longo dos anos, vem empreendendo esforços no projeto, incluindo nova expedição ao El Mismi, consulta às comunidades locais, mobilização de recursos e realização de estudos técnicos.
A mobilização recebeu o apoio de organizações como a SERNANP, a SDSN, a Global Canopy Programm e a rede Amazonicos Por La Amazonia (AMPA) do Peru.
Pauta na Cúpula da Amazônia
Em agosto de 2023, a criação da área de proteção do El Mismi foi pauta na Cúpula da Amazônia, que reuniu os chefes de Estado dos países amazônicos em Belém, no Pará. Na reunião, estavam a ministra do Meio Ambiente do Peru, Albina Ruiz Ríos, além de representantes do Instituto Peruano de Pesquisas da Amazônia (IIAP), FAS, SDSN e o Fundo Andes Amazônia.
Ficou estabelecida a necessidade de consolidar a proposta. Para isso, é necessário atualizar os estudos de caracterização e análise de direitos reais da área pretendida, assim como validar a proposta com as comunidades locais.
“A nascente do rio Amazonas é uma das áreas mais importantes do mundo, um verdadeiro patrimônio natural da humanidade que precisa ser protegido urgentemente. Esperamos avançar com a agenda de proteção à região da nascente, que é, de muitas formas, o coração do mundo.”
Virgilio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS)
A região e as comunidades que nela vivem vêm sendo castigadas pelos efeitos das mudanças climáticas, que podem afetar de modo permanente e destrutivo a população, além de trazer consequências para outras regiões banhadas pelo rio Amazonas. “Nossa expectativa é fortalecer a aliança pela criação da área de proteção do El Mismi. O Governo do Peru está demonstrando apoio total à proposta. ”, afirma Vigilio Viana.
Encontro em Arequipa
Reunião realizada em Arequipa (26/10) teve a participação do chefe da SERNANP, José Carlos Nieto; da vice-governadora da Região de Arequipa, Ana Maria Gutierrez; do gerente da Autoridade Ambiental Regional de Arequipa, Mirbel Epiquen; do superintendente geral da FAS, Virgilio Viana; da coordenadora executiva da SDSN Amazônia e consultora da FAS, Karina Pinasco; de representantes da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e da Embaixada do Brasil no Peru; além de profissionais de comunicação, que participaram de uma expedição ao El Mismi organizada pela FAS.
Segundo a vice-governadora de Arequipa, essa é uma iniciativa que deve ser apoiada por todos, porque é um meio de se preparar para o futuro devido às consequências das mudanças climáticas vividas atualmente. “Trabalhar nesse projeto é fundamental para a região de Arequipa, para o país e, é claro, para a Amazônia. O mundo na atualidade necessita de água, necessita de áreas protegidas, e sobretudo vegetação, que nos ajuda a enfrentar as mudanças climáticas, o aquecimento global”, afirma Gutierrez.
Sobre a FAS | A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Em 2023, a instituição completa 15 anos de atuação com números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares de famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas entre 2008 e 2021.