- Pesquisadoras da Universidade Federal do Ceará desenvolveram creme cicatrizante que utiliza a acerola como base. A fruta é rica em vitamina C, fibras e minerais;
- Com custo reduzido, creme se mostrou três vezes mais eficiente que produtos já presentes no mercado e ganha patente.
Uma das campeãs em teor de vitamina C, fibras e minerais, a acerola tornou-se matéria-prima na confecção de produtos medicinais, justamente por conta de suas propriedades benéficas. Pesquisadoras da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram um creme cicatrizante que utiliza a fruta como base, invento que rendeu à Instituição sua mais nova carta patente. Em testes de laboratório, o creme apresentou resultados superiores a outros compostos já presentes no mercado.
Fator importante para a eficácia do creme é justamente a forte presença de vitamina C na acerola, por conta de seu papel na defesa contra danos celulares, também auxiliando em respostas anti-inflamatórias, contribuindo para o bom funcionamento das células e fortalecendo o sistema imunológico.
Além disso, a fruta é rica em compostos do tipo fenólicos, grupo de antioxidantes que cumprem funções importantes no organismo devido ao seu potencial anti-inflamatório, antimicrobiano e anticarcinogênico (de prevenção ao câncer). A cor vermelha da acerola é, inclusive, resultado da presença desses compostos fenólicos (especificamente a antocianina) que fazem parte do grupo dos flavonóides, pigmentos naturais comuns em diversas frutas e espécies em geral do reino vegetal.
Para aproveitar essas características benéficas da acerola, as pesquisadoras da UFC utilizaram a polpa da fruta de forma liofilizada (processo de desidratação e congelamento que conserva o produto) para a preparação do creme cicatrizante.
“As análises realizadas na polpa liofilizada de acerola revelaram alta atividade antioxidante e elevados teores de vitamina C, carotenoides, polifenóis, especialmente antocianinas e quercetina, além dos minerais cálcio, fósforo e ferro”, detalha a Profª Erika Freitas Mota, do Departamento de Biologia (Centro de Ciências) da UFC, coorientadora da pesquisa que gerou o creme.
A patente é fruto de tese de doutorado desenvolvida pela pesquisadora Neuza Felix Gomes Rochette, à época no Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, com orientação da Profª Dirce Fernandes de Melo, aposentada do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFC.
Poder cicatrizante
“O creme de acerola é capaz de acelerar o processo de cicatrização de feridas por atuar de forma eficiente na fase inflamatória e consequentemente na fase proliferativa, com aceleração na formação do colágeno, neovascularização e reepitelização (reparo na pele)”, explica a Profª Erika. A hipótese é a de que o segredo para essa eficácia esteja na sinergia das atividades antimicrobianas e antioxidantes geradas pelos compostos presentes na acerola.
Para os testes com o creme, a aplicação foi dividida entre quatro grupos de modelos animais, todos com ferimentos cutâneos. O primeiro grupo foi tratado apenas com aplicação tópica de soro fisiológico; o segundo, com o medicamento de referência do mercado (composto de acetato de clostebol e sulfato de neomicina).
O terceiro grupo foi tratado apenas com a base do creme, antes da homogeneização dos ingredientes ativos da acerola liofilizada. Por fim, o quarto grupo recebeu aplicação do creme de acerola já totalmente produzido.
Os resultados não deixaram dúvidas: após uma aplicação diária dos produtos, durante 21 dias, o grupo que recebeu o creme de acerola foi o que apresentou maior redução da área do ferimento, chegando a ficar três vezes menor do que as feridas apresentadas pelos outros grupos.
Baixo custo de produção
Os benefícios do creme de acerola não se restringem à sua eficácia cicatrizante. Os custos de produção e fatores como valorização e aproveitamento da biodiversidade brasileira também são argumentos a favor do produto patenteado pela UFC. O Brasil é atualmente o maior exportador da fruta para o mundo, sendo o Nordeste a região mais proeminente nessa indústria.
“Uma das vantagens do produto será o preço, que deverá custar de 40% a 50% a menos do que os similares. Além de se tratar de um medicamento fitoterápico, o produto será elaborado exclusivamente a partir de matérias-primas vegetais e ainda se pode ressaltar o fato de aproveitar a biodiversidade e gerar renda no campo”, reforça a Profª Erika.
O depósito da patente do creme foi feito em 2011, sendo a carta concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em janeiro deste ano.