Conheça gramas nativas de fácil manutenção

  • A Embrapa e parceiros selecionaram três variedades de gramas nativas do Brasil com potencial para uso em pistas de aeroportos, margens de rodovias e ferrovias, jardins públicos e domésticos, entre outros.
  • O diferencial é que são espécies nativas e, portanto, adaptadas às condições brasileiras de clima e solo.
  • As variedades Aruaí, Curica e Tuim reúnem bom desempenho e rusticidade, além de gerar menos custos com podas em relação às braquiárias normalmente utilizadas.
  • A única variedade nativa da América do Sul à disposição do mercado, que é a grama batatais, é resultante de extrativismo predatório.
  • Foto: Paulo Augusto Xavier

A Embrapa apresenta ao mercado três variedades de gramas tropicais nativas do Brasil com potencial para uso em pistas de aeroportos, margens de rodovias e ferrovias, jardins públicos e domésticos. Denominadas Aruaí, Curica e Tuim, elas são aptas para cobertura vegetal de superfícies de solo, com menor gasto de manutenção, relativo à poda, quando comparado às braquiárias.

Essas são as primeiras cultivares de gramas nativas apropriadas às diferentes condições brasileiras de solo e clima e têm um mercado potencial no País estimado em 500 milhões de reais ao ano. O lançamento ocorre durante a celebração de 50 anos da Empresa, no dia 26 de abril de 2023, em Brasília, DF.

A demanda por gramas tropicais nativas é forte e envolve vários setores no Brasil. Isso porque é pequena a oferta de cultivares adaptadas ao manejo mínimo de adubação e irrigação, e que apresentem demanda reduzida por poda.

Foto: Gisele Rosso

A disponibilização dessas cultivares para uso comercial, registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), contribui para a redução do comércio paralelo, muito forte nesse setor. A extração ilegal de plantas nativas, como a grama-batatais, causa impactos ambientais relevantes nas áreas onde os materiais são coletados, como degradação do solo e erosão.

De acordo com o pesquisador aposentado da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) Francisco Dübbern de Souza, que coordenou a pesquisa de 2011 a 2017, a licença dessas três gramas resulta em um aproveitamento sustentável de recursos naturais, a valorização de materiais genéticos nativos, redução de danos ambientais, diversificação da flora cultivada e abertura de novas possibilidades de negócios e de parcerias.

“Esse esforço representou a primeira iniciativa de desenvolvimento de cultivares de gramas tropicais no Brasil. Esses três produtos participarão de um mercado potencial brasileiro estimado em 500 milhões de reais ao ano”

Francisco Dübbern de Souza, pesquisador aposentado da Embrapa Pecuária Sudeste

Para o vice-presidente da Associação Nacional Grama Legal, Maurício Zanon, as novas variedades enquadram-se nas características que validam uma espécie de grama para ser produzida. “Elas se encaixam dentro do nosso sistema de produção, de técnicas; são formadas em um tempo razoável e produzem um bom tapete, o que possibilita entregarmos um produto de qualidade para nossos consumidores. Já temos informações do mercado e por isso apostamos nessas variedades”, observa Zanon.

Grama Aruaí

Grama Aruaí / Foto: Juliana Sussai

A Aruaí já está sendo comercializada sob encomenda por produtores credenciados. É indicada principalmente para locais de menor aporte tecnológico, que requerem cultivares de maior rusticidade. A Aruaí (Paspalum notatum var. notatum) mostra bom desenvolvimento sob condição de baixa fertilidade do solo e boa tolerância a períodos secos.

Segundo o pesquisador Marcos Gusmão, que atualmente coordena o projeto, a Aruaí é semelhante à grama Mato Grosso, muito comercializada no estado de Mato Grosso do Sul. Cobre rapidamente o solo, tem um verde bem intenso, apresenta pouca densidade de pelos (responsáveis pela coceira), o que a diferencia da grama batatais comum, é bastante vigorosa, tolera infestação de pragas e plantas daninhas e possui moderada tolerância ao sombreamento.

Outra característica importante é seu rápido restabelecimento vegetativo. Todas as gramíneas tropicais perenes, no inverno, entram em dormência. A Aruaí restabelece o desenvolvimento vegetativo no final do inverno e início da primavera, durante as primeiras chuvas. Um ponto desfavorável é que, em experimento no Rio Grande do Sul, ficou caracterizada a sua baixa tolerância a geadas.

Grama Tuim

Grama Tuim / Foto: Juliana Sussai

A Tuim e a Curica estão registradas e devem estar à disposição do mercado dentro de um prazo maior. A Tuim é também uma cultivar de Paspalum notatum var. notatum, porém um ecótipo de folha estreita. Tem potencial de uso como gramado para cobertura de solo em diferentes regiões do Brasil. Pode ser cultivada, por exemplo, em jardins públicos, domésticos e industriais e em margens de rodovias, ferrovias e em pistas de aeroportos. Atende propósitos antierosivos e ornamentais.

“A Tuim tem grande potencial. A aparência é mais delicada que a Aruaí. Além disso, é resistente e apresenta rusticidade semelhante à Aruaí. Outro ponto positivo é a resistência a herbicidas”, fala Miranda.

O gramicultor acredita que a barreira para a produção da grama, hoje, é a falta de espaço físico para a ampliação dessa cultivar.

A Curica (Axonopus parodii) pode ser cultivada para controle de erosões, supressão de plantas invasoras e demanda número reduzido de podas. Sua coloração é verde-escura, apresenta baixa produção de matéria seca e densa cobertura da superfície do solo. É recomendada para regiões úmidas do Brasil. Contudo, a resistência pela tolerância às cigarrinhas típicas de pastagens contribui para o aumento populacional desses insetos.

Gramão é coletada de forma extrativista

Foto: Paulo Augusto Xavier

No Brasil, os gramados são formados por um número reduzido de cultivares nativas. A grama-batatais, também conhecida como grama-forquilha ou gramão, é a mais cultivada. No entanto, ela é coletada de maneira extrativista, causando danos ambientais nessas áreas.

Assim como a Aruaí, ela é rústica e adapta-se a condições diversas de clima e de solo; porém, perde rapidamente a qualidade ornamental, necessitando de muitas podas. Outra grama predominante dentre as exóticas é a esmeralda. Mas é mais exigente em relação à disponibilidade hídrica e de nutrientes.

Nos nichos de mercado menos ornamentais, como rodovias, usam-se as braquiárias, desenvolvidas para alimentação animal, na cobertura de solo. No entanto, elas têm rápido crescimento, o que requer muitas podas, aumentando o custo da manutenção.

“Quando você pensa em desenvolver forrageiras, você quer uma planta de alto valor nutricional, crescimento rápido e cespitoso (raiz que gera vários caules), grande quantidade de biomassa, que produza sementes, resistente a pragas e a doenças. De outro lado, para gramados, você necessita de um produto de baixo crescimento, que cubra rapidamente o solo e não produza muita biomassa, porque, caso contrário, vai precisar de muitas podas. Além disso, muitos nichos não querem gramas que produzem sementes, porque perdem a qualidade ornamental e podem atrair animais”, explica Gusmão.

Por exemplo, para o setor aeroportuário, é importante atender requisitos técnicos de segurança, como controle de erosão e menor produção de sementes, para evitar a atração de pássaros e de roedores. Essas características podem ser encontradas nas gramas lançadas pela Embrapa.

A grande diversidade genética do Banco de Germoplasma de Paspalum, mantido na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP, foi o que motivou o pesquisador Francisco Dübbern a estudar a viabilidade das cultivares para cobertura de solo.

“O trabalho muda o olhar em relação aos bancos de germoplasma, no sentido de encontrar soluções e usos para a diversidade existente neles. A partir desse novo negócio da Embrapa, pode-se consolidar essa linha de pesquisa, via melhoramento. Havendo essa visão de investimento, pode-se desenvolver cultivares intra e interespecíficas para gramados premium”, destaca Gusmão.

Ele acrescenta que encontrar função para plantas nativas ajuda na sua preservação. “É muito mais fácil preservar a diversidade dando função a ela. Outra questão é a regulação do mercado, que terá produtos registrados, com origem genética, qualidade fitossanitária e com características determinadas, impactando na razão de existir do extrativismo”, acredita o pesquisador.

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Fonte: Embrapa

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