- Julho tem queda de 66% e é o segundo menor da série do sistema Deter-B, do Inpe;
- No Cerrado, porém, a ação do governo não foi capaz de conter o surto de desmatamento e foi registrada alta de 16,5% no ano;
- Sistema Deter monitora o desmatamento em tempo quase real utilizando a imagem de satélites. Informações rápidas ajudam a fiscalização pelo Ibama.
- Imagem: Amazônia / Crédito Claudio Angelo, Observatório do Clima
Os alertas de desmatamento na Amazônia em julho tiveram uma queda de 66%, de acordo com dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente. É a segunda menor área de alertas já registrada na atual série histórica do Deter, iniciada em 2015. A forte redução do ritmo das motosserras levou a uma queda de 7,4% nos alertas no ano de 2023, cenário que abre a possibilidade de uma redução na taxa de devastação da floresta no primeiro ano do governo Lula.
O Deter mostrou que, em julho, foram derrubados 500 km2 de floresta na Amazônia, contra 1.487 km2 em julho do ano passado. Antes do governo Bolsonaro, o desmatamento em julho nunca havia ultrapassado 739 km2 na série desse sistema. De agosto de 2022 a julho de 2023, a área de alertas foi de 7.952 km2 contra 8.590 km2 no mesmo período de 2021 a 2022.
O sistema Deter monitora a destruição da Amazônia em tempo quase real, usando imagens de satélites. A informação é rápida para ajudar a fiscalização do Ibama, mas é menos acurada que os dados do Prodes, o sistema que uma vez por ano mede a taxa oficial de desmatamento. Os dados de ambos os sistemas são apurados de agosto de um ano a julho do ano seguinte. A série de 2023, portanto, foi fechada no último dia 31.
Número de julho surpreende
Devido às diferenças entre o Prodes e o Deter, não é possível saber se haverá redução na estimativa oficial de desmatamento de 2023, a ser divulgada em novembro. Mas o número de julho surpreende: o desmatamento acelerado no segundo semestre de 2022, final do governo Bolsonaro, tornava extremamente difícil uma queda na taxa de 2023. Isso já está no horizonte.
“A estrutura do Ibama não mudou, a legislação não mudou, ninguém inventou nenhuma ferramenta nova. A única coisa que mudou foi a determinação de cumprir a lei.”
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima
“O dado mostra que a Amazônia vive de expectativa. Quando você tinha o governo federal defendendo grileiro, chamando madeireiro ilegal de cidadão de bem e atacando indígena, o sinal da ponta era de que toda a destruição seria premiada. Agora o crime entendeu que o cenário mudou e que infratores serão apanhados e punidos. Isso impacta diretamente o desmatamento”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Atenção no Cerrado
No Cerrado, porém, a ação do governo foi incapaz de conter o surto de desmatamento: o bioma mais rapidamente destruído do Brasil teve novo aumento no último período e superior ao do ano anterior (6.359 km2 contra 5.458 km2).
Em julho, o aumento foi de 26%. Isso se deveu à grande quantidade de autorizações de desmatamento emitidas pelos governos estaduais, sobretudo o da Bahia, estado campeão de devastação do bioma. Diferentemente da Amazônia, onde o Código Florestal só autoriza o desmatamento de 20% de uma propriedade rural, no Cerrado o limite é de 80%.
“Era de esperar o aumento do desmatamento do Cerrado neste ano, reforçado pela baixa proteção que a legislação florestal brasileira lhe confere e pelo grande número de autorizações de desmate que vêm sendo emitidas pelos estados.”
Guilherme Eidt, coordenador de advocacy do Instituto Sociedade, População e Natureza.
“Os esforços do governo federal para aumentar o comando e controle do desmatamento na região demandarão forte diálogo, maior integração e transparência dos dados e, necessariamente, um mecanismo para verificação de conformidade das autorizações de supressão de vegetação, para coibir as irregularidades na atuação dos órgãos ambientais estaduais.”
Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 90 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.
Fonte: Observatório do Clima
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