População marcha pela transição energética

  • Manifestações no Brasil e em dezenas de países marcam início de uma onda de ações pela transição energética justa;
  • Mais de 160 marchas, ações criativas e debates expressaram a demanda popular por um sistema energético centrado nas pessoas e baseado em energias renováveis;
  • Ações são realizadas por comunidades diretamente afetadas pela crise climática em cidades de todo o mundo e também no Brasil.
  • Imagem: Ativistas protestam em Porto Alegre (RS) pedindo o reconhecimento oficial da emergência climática e homenagearam as vítimas dos recentes temporais. Crédito: Andréa Graiz

Entre 2 e 5 de novembro, comunidades diretamente afetadas pela crise climática tomaram espaços públicos de dezenas de cidades, em pelo menos 25 países, inclusive o Brasil, para exigir dos governos medidas mais efetivas por uma transição energética justa.

Lideradas por organizações locais e coordenadas pela 350.org, as mais de 160 manifestações realizadas nos últimos dias marcaram o início do mês de ação global Renova Já, que tem o objetivo de amplificar a demanda popular por um sistema energético socioambientalmente justo e baseado em energias renováveis.

Até 9 de dezembro, a onda global de ações pela transição energética deve reunir milhares de pessoas, em mais de 200 eventos, distribuídos por pelo menos 60 países. Realizadas às vésperas da COP28, a 28ª edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima da ONU, as ações elevam a pressão sobre os governantes por compromissos mais ambiciosos pelo fim do petróleo, gás e carvão e pela expansão responsável de energias como a solar e a eólica.

Ações no Brasil

No Brasil, os eventos do mês de ações Renova Já foram realizados no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, na sexta-feira (3/11), e em Silves (AM), entre sexta-feira e domingo (5/11).

Segundo o diretor da 350.org na América Latina, Ilan Zugman, após quase um ano sob a gestão do presidente Lula, o governo brasileiro chegará à COP28 com a intenção de mostrar ao mundo que já deu uma guinada em relação ao governo anterior e reduziu o desmatamento na Amazônia. “Porém, as ações para exigir prioridade às energias renováveis dão ao governo o recado de que também é preciso melhorar as políticas públicas no setor energético”, afirma.

Manifestação na sede da Petrobras

Cerca de 80 pescadores artesanais da Baía de Guanabara reuniram-se diante do edifício-sede da Petrobras, no Centro da capital fluminense, em 3 de novembro. O grupo se manifestou contra os lucros de bilhões de dólares obtidos pelas empresas de petróleo e gás a cada trimestre, enquanto destroem o clima global e contaminam ecossistemas vitais para as comunidades tradicionais.

Pescadores artesanais pedem transição energética justa, em protesto na frente do prédio da Petrobras, no Rio de Janeiro. Crédito: Lucas Landau/350.org

À tarde, os pescadores dirigiram-se ao bairro da Urca e, diante da vista da Baía de Guanabara, entoaram gritos de protesto e levantaram faixas com pedidos de que os governos revertam para as energias renováveis, como a solar e a eólica, os recursos públicos que alimentam a produção e o consumo de combustíveis fósseis.

“Está na hora de mudarmos para um sistema em que as energias renováveis tenham prioridade e as comunidades sejam respeitadas.”
Alexandre Anderson, pescador artesanal e presidente da Associação dos Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Rede Ahomar)

“A Baía de Guanabara está invadida pelo setor do petróleo, que provoca danos aos moradores da região, com a conivência dos governos estadual e federal. Já testemunhamos pequenos, médios e grandes vazamentos de óleo nas áreas onde vivemos e nunca fomos devidamente compensados pelos danos que essa negligência provoca”, afirma Alexandre Anderson, pescador artesanal e presidente da Associação dos Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Rede Ahomar), que liderou o protesto, com apoio da 350.org.

Ativistas vão ao Palácio Piratini

Ato em Porto Alegre (RS) pede fim dos benefícios ao setor do carvão. Crédito: Andréa Graiz

Em uma marcha pelo Centro da capital gaúcha, (03/11), pelo menos 100 manifestantes, em sua maioria jovens ativistas climáticos, caminharam do Sindicato dos Bancários até o Palácio Piratini, sede do Poder Executivo do Rio Grande do Sul, carregando faixas e cartazes com mensagens sobre a crise climática. A ação foi liderada pelo Eco pelo Clima, com apoio da 350.org e do ClimaInfo.

Os participantes homenagearam as vítimas dos temporais que mataram dezenas de pessoas no Estado, desde setembro deste ano, e exigiram que o governo gaúcho reconheça oficialmente a emergência climática global.

Um projeto de lei com essa finalidade (PL 23/2023) encontra-se parado na Assembleia Legislativa do Estado há meses, apesar de os extremos climáticos recentes terem afetado profundamente milhares de famílias.

Além de seu valor simbólico, a declaração de emergência elevaria a responsabilidade do governo em tomar medidas pela transição energética justa no estado e pela adaptação aos extremos climáticos.

“A mudança climática torna tragédias como as que vimos no Rio Grande do Sul cada vez mais frequentes e intensas. Depois de tantas famílias perderem pessoas queridas, verem suas casas destruídas ou terem seus cultivos arrasados, o governo estadual tem a obrigação de agir para proteger a população dos piores cenários da crise climática.”
Renata Padilha, coordenadora do Eco Pelo Clima.

Danos causados pela extração de gás

Mais de 130 pessoas reuniram-se em Silves, município no sul do Amazonas, para participar de atividades como uma marcha pelo Centro da cidade, um debate sobre a crise climática, uma vigília pela vida no planeta e uma pintura em um mural gigante. Representantes indígenas, quilombolas, ribeirinhos e de localidades urbanas de Silves e dos municípios vizinhos compartilharam seus pontos de vista sobre os impactos da crise climática na região e as soluções para o problema.

Em Silves (AM), participantes pedem transição energética limpa na Amazônia. Crédito: Aspac

Os atos foram liderados pela Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (Aspac), e pelas organizações Rede GTA, Comissão Pastoral da Terra (CPT – Prelazia de Itacotiara), Apirá e Grupo de Mulheres da Resistência Amazônica, com apoio da 350.org.

Comunidades tradicionais de Silves, como as do povo indígena Mura, estão sofrendo com os impactos ambientais provocados pela extração de gás fóssil na região. Eles exigem que as comunidades sejam devidamente consultadas sobre empreendimentos que afetem seus territórios, denunciam os danos causados pela crise climática sobre seu modo de vida e pedem um sistema energético baseado em energias renováveis.

Protestos pelo mundo

Fonte: Assessoria de imprensa

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