Iniciativa busca qualificar, incentivar e valorizar o compartilhamento de práticas alimentares e manifestações culturais, associadas à gastronomia e ao turismo sustentável. As ações de inovação social abrangem Alagoas, Sergipe e Pernambuco.
Cinco experiências focadas em desenvolvimento territorial e turismo sustentável foram escolhidas pelo projeto “Potencializando turismo sustentável em paisagens alimentares da Região Nordeste do Brasil, nos cenários de mudanças climáticas e pós-pandemia Covid-19”, coordenado pela Embrapa Alimentos e Territórios. As ações do projeto de inovação social abrangem Alagoas, Sergipe e Pernambuco, e buscam qualificar, incentivar e valorizar, principalmente, o compartilhamento de práticas alimentares e manifestações culturais, associadas à gastronomia e ao turismo de base comunitária.
Em Alagoas, as experiências selecionadas contemplam a Serra das Pias, em Palmeira dos Índios, e as riquezas do Rio São Francisco – incluindo os municípios de Olho d’Água do Casado, Delmiro Gouveia e Piranhas. Já em Sergipe, a seleção envolve catadoras de mangabas, marisqueiras, doceiras e beijuzeiras localizadas em Indiaroba e São Cristóvão. Uma comunidade remanescente de quilombolas de Rio Formoso e as marisqueiras de Barra de Sirinhaém, que compartilham o mesmo território de manguezais na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guadalupe, em Pernambuco, completam o portfólio.
As comunidades e os territórios selecionados nos três estados nordestinos caracterizam-se como paisagens alimentares, no contexto da relação do indivíduo com o seu sistema produtivo e com a cultura alimentar, onde há oportunidade para que os visitantes possam interagir com as pessoas do local e com as riquezas culturais e naturais. “Existe esse potencial, essa atratividade, primeiro porque os viajantes cada vez mais querem experiências diferenciadas, querem viver experiências autênticas. E, no final, isso é o turismo, essa interação”, diz Richard Alves, sócio consultor da Lab Turismo.
Conexão entre alimentos, territórios e pessoas
O conceito de paisagens alimentares tem como princípios a conexão entre os sistemas agroalimentares e seus alimentos mais representativos, o território e a própria paisagem caracterizada pelas intervenções humanas – antrópicas – ao longo do tempo. Apoia-se na produção sustentável de alimentos em sistemas agrícolas tradicionais, voltados para a preservação da identidade, da cultura local e do modo de fazer dos povos e comunidades, de acordo com o analista Aluísio Goulart, supervisor de Inovação e Tecnologia da Embrapa Alimentos e Territórios, que coordena a iniciativa.
“Na paisagem alimentar, há uma associação de alimentos que compõem a cultura alimentar do território e, por isso, abre-se oportunidade para designar experiências únicas de forma mais ampla e representativa, considerando as potencialidades dos territórios nos quais as experiências selecionadas estão inseridas”, explica Goulart. Alguns desses territórios já oferecem experiências turísticas e outros têm interesse em desenvolvê-las. Mas, em todos eles, existe a possibilidade de aprimorá-las, sem perder a autenticidade do que é típico no local, ou seja, preservando a sua identidade.
Identificação dos territórios
Com apoio de instituições parceiras, como prefeituras, universidades e associações, a equipe técnica percorreu os municípios nordestinos, para conhecer as comunidades e suas práticas alimentares e culturais, identificar os territórios de delimitação de atuação do projeto e o nível de organização das comunidades. No segundo semestre de 2022 e início de 2023, foram visitadas várias cidades e territórios, com reuniões que envolveram dezenas de atores associados à produção de alimentos oriundos da agricultura familiar ou de coletivos extrativistas inseridos nas cadeias produtivas da mandioca e derivados, frutas nativas, apicultura e pesca artesanal, entre outras.
“Na visita técnica com as equipes de turismo, da Embrapa e de outros parceiros, foi possível fazer uma avaliação mais criteriosa e ter um olhar sobre as potencialidades relacionadas ao turismo no contexto do projeto Paisagens Alimentares”, contou Alves, que integrou a missão em janeiro. Para ele, um dos aspectos mais importantes foi constatar o interesse e a receptividade das comunidades, lideranças e dos diversos segmentos que estão sendo trabalhados em desenvolver e aprimorar a atividade turística. “Porque isso é fundamental; esse aceite, o protagonismo e o interesse que a gente constatou em todos os territórios, em todas as comunidades visitadas”, finalizou o consultor.
Para o comitê técnico-científico, integrado por representantes da Embrapa e das instituições parceiras, os territórios são o principal elemento norteador das experiências, numa lógica ampla e diversa que abarca os aspectos ambientais, culturais, sociais e produtivos. Por isso, o trabalho de campo incluiu o mapeamento e a identificação de estruturas sociais e de redes comunitárias que podem ser apoiadas pelo projeto.
Preservação da biodiversidade e das tradições
A partir do diagnóstico das experiências e da coleta de dados qualitativos, a equipe estabeleceu critérios que nortearam a definição de quais experiências passam a integrar o projeto. O objetivo é definir estratégias que contribuam tanto para a preservação da biodiversidade e das tradições como ajudem a valorizar o patrimônio alimentar dos territórios selecionados, inclusive do ponto de vista de segurança e da soberania alimentar e nutricional dessas comunidades.
São parceiros na iniciativa o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA-PE), a Secretaria de Estado de Turismo de Sergipe, a Universidade Federal de Sergipe (UFS), a Fundação Municipal de Cultura e Turismo de São Cristóvão (Fumctur), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Alagoas e Sergipe), além das prefeituras municipais de Delmiro Gouveia, Indiaroba, Olho d´Água do Casado, Palmeira dos Índios, Piranhas, Rio Formoso e Sirinhaém.
A empresa especializada Lab Turismo é a consultora técnica contratada para assessorar as atividades, que serão construídas de forma coletiva, com ampla participação das comunidades e agentes públicos. Também estão previstas várias ações de capacitação das comunidades, oferecidas pelas instituições e órgãos parceiros.
Fonte: Embrapa