Campanhas buscam reduzir resíduos gerados no carnaval

Os principais vilões das festas de rua são plástico, vidros, filtro de cigarro, nylon de fantasias. Iniciativas como “Cada Lata Conta” e “Bloco dos Catadores” atuam para minimizar os impactos da grande festa popular do país

Quais são as cidades que geram maior quantidade de lixo? Quais são os resíduos vilões do Carnaval? Quanto tempo eles podem permanecer no meio ambiente? 

A professora de pós-graduação em Meio Ambiente da UNINTER, Sandra Lopes de Souza fez um levantamento sobre a geração de lixo no carnaval em cidades onde a festa popular é celebrada. Alguns dados referem-se ao período antes da pandemia, em 2019. Vejam os números:

  • No Rio de Janeiro (RJ), a média de lixo no carnaval chega a 500 toneladas nas ruas e a Marques de Sapucaí.
  • Em São Paulo (SP), em 2020, as empresas de limpeza pública coletaram 456,5 toneladas de resíduos nas ruas e no sambódromo.
  • Em Florianópolis (SC), a prefeitura coletou 160 toneladas de resíduos.
  • Em Salvador (BA), as empresas de limpeza pública recolheram 436 toneladas nos circuitos Barra-Ondina, Campo Grande, Pelourinho, Amarila e Ilhas.
Sandra Lopes de Souza, professora de pós-graduação em Meio Ambiente da Uniter/ Divulgação

Existem diversas campanhas em todo o país para promover a coleta seletiva e a reciclagem. No entanto, em grandes festas populares como o carnaval, torna-se é um trabalho difícil dar a destinação correta para todas as toneladas de resíduos gerados em pouco tempo. 

Além disso, dos resíduos gerados, alguns ainda têm processo lento para decomposição e uma cadeia de reciclagem em processo de desenvolvimento, o que os tornam vilões, segundo a professora Sandra de Souza. Abaixo, vejam alguns deles:

  • Plástico que é utilizado em quase tudo, embalagens pet, de alimentos, fantasias, adereços e eles persistem no meio ambiente por 400 anos;   
  • Vidro encontrados em garrafas, copos, protetores de alimentos e geral, adereços e até em fantasias bordadas com “cristais”. Leva mais de mil anos para desaparecer do meio ambiente; 
  • Filtro do cigarro até 5 anos para se decompor; 
  • Nylon usados na confecção das fantasias, bandeiras, faixas e propagandas. Demora mais de 20 anos para se decompor; 
  • Metal também muito utilizado nos adereços e fantasias. Mais de 100 anos de decomposição. 
  • Papel, esse é utilizado praticamente em quase tudo e leva de 3 a 6 meses na natureza; 
  • Coco verde, há regiões no Brasil onde é muito consumido e se torna um problema mesmo sendo biodegradável, porém, pelo montante gerado num curto espaço de tempo ele se torna “biodesagradável” , pois demora 12 anos para se decompor; 
  • Chicletes que parece inofensivo, mas demora em média 5 anos; 
  • Borracha que também não fica muito longe do consumo e descarte na festa, seu tempo de decomposição é indeterminado, então o pouco que ficar em local inapropriado já causará um grande impacto ambiental. 

Campanhas de coleta seletiva

Em Belo Horizonte (MG) foram recolhidas 10 toneladas de materiais recicláveis em dois dias de folia. Os resíduos foram coletados das ruas e avenidas pelos catadores cadastrados pela prefeitura nas tendas de triagem para atuar no carnaval. A ação promovida pela Belotur, Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania registrou 200 profissionais que irão vender os materiais coletados para as cooperativas Asmare e Coopesol Leste.

A chefe do Departamento de Políticas Sociais e Mobilização da SLU, Ana Paula da Costa Assunção, explica que o foco da iniciativa são os catadores avulsos da cidade. Aqueles que recolhem por conta própria os recicláveis, sem vínculo com as associações. “Em vez de terem que procurar sucateiros ou ferros-velhos para comercializarem os recicláveis coletados, colocamos à disposição deles tendas seguras e com banheiros químicos para a triagem do material e para a destinação dos resíduos diretamente às cooperativas parceiras da PBH”, destaca. “Sabemos do importante papel que esses catadores desempenham nos eventos e como é necessário que tenham um espaço apropriado para separarem os materiais, evitando, assim, o surgimento de pontos irregulares de rejeitos sobre calçadas ou praças”, afirma Ana Paula.

Cada Lata Conta

As latinhas de alumínio possuem em ciclo de vida de 60 dias desde o consumo, reciclagem e retorno às prateleiras/ Divulgação Abralata

A Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralata) põe de novo o bloco na rua na Sapucaí com a campanha Cada Lata Conta, iniciativa que integra programa internacional para conscientizar as pessoas sobre a sustentabilidade pela reciclagem da latinha de alumínio, um bom exemplo de economia circular. O Cada Lata Conta estará com estrutura no Sambódromo carioca para coletar, separar e destinar 100% das latinhas para a reciclagem. Toda ação é realizada em parceria com a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa); o SESC; a consultoria especializada em sustentabilidade Pólen; e as Redes cariocas de cooperativas de catadores de materiais recicláveis Recicla Rio, Movimento e Febracom.

São mais de 100 catadores atuando na Marques de Sapucaí entre os dias 17 e 20 e também em 25 de fevereiro. O objetivo é superar a marca de 8 toneladas de latinhas que foram coletadas em 2022 e conscientizar os foliões sobre escolhas sustentáveis na hora de descartar as latinhas. “O desfile das escolas de samba é famoso mundialmente pela sua alegria que contagia milhares de foliões. Temos agora o desafio de torná-lo também conhecido como a festa mais sustentável do planeta, assim como a latinha”, afirma o presidente executivo da Abralatas, Cátilo Cândido.

A média de reciclagem no Brasil nos últimos anos é de 95% das latas de alumínio. O recorde foi de 98,7% e mais de 30 bilhões de unidades recicladas em 2021. Segundo a Abralatas, o país é o 3º maior produtor mundial de latinhas, com fábricas instaladas em todas as regiões.

Bloco dos catadores

Bloco dos Catadores, parceria da Ancat benefica 1.100 catadores cadastrados com Ambev/ Divulgação Ambev

Em São Paulo (SP ) e no Recife (PE), cerca de 1.100 catadores organizados em cooperativas vão integrar o “Bloco dos Catadores”, uma iniciativa da Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) em parceria com a Ambev.  Os profissionais cadastrados vão receber um valor fixo por jornada de trabalho.

Os resíduos será pesados na hora em centrais de coleta instalados em locais estratégicos dos circuitos carnavalescos. A expectativa é a de que sejam coletadas 60 toneladas em São Paulo e 25 toneladas no Recife nos dias de folia. Segundo a ANCAT, o processo contará com tecnologia blockchain, que garante maior eficiência no controle, rastreamento e destinação de cada tipo de resíduo. 

Em São Paulo, a ação será realizada pelas cooperativas integrantes da Rede de Cooperativas CataSampa, e conta com a parceria da ONG Pimp My Carroça, mantida pelo artivista Mundano. No Recife, a ação conta com o apoio da Prefeitura e da Solos, negócio de impacto que promove a economia circular.

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