- Pesquisa do The Good Food Institute Brasil (GFI) indicou que o consumo das carnes bovina três vezes por semana era hábito de 53% dos brasileiros. Em 2022, percentual que manteve essa frequência caiu para 47%.;
- Dados evidenciam a predominância de uma alimentação focada na redução e não na eliminação completa deste alimento, seja por motivos pessoas, como saúde, ou por fatores externos, como preço, de acordo com o instituto.
No dia 20 de março é celebrado o Dia Mundial Sem Carne. A data foi criada por iniciativa da Farm Animal Rights Movement (FARM), ONG norte-americana que surgiu em 1976 como um serviço de divulgação de informações sobe os benefícios do veganismo nos Estados Unidos e que se tornou uma instituição defensora dos direitos dos animais em 1981. O objetivo é conscientizar as pessoas sobre como uma dieta sem o consumo de proteína animal pode trazer benefícios à saúde e ao meio-ambiente.
Pesquisa do The Good Food Institute (GFI) mostra que a população brasileira em 2022 consumiu carne bovina com menos frequência do que em 2020. Antes, 53% das pessoas comiam pelo menos três vezes por semana, enquanto no ano passado, 47% incluíram a carne vermelha em sua dieta com esta mesma frequência, reduzindo o consumo. Já o percentual de consumidores que não comem carne bovina nunca se manteve em 2%.
De acordo com o estudo, os dados “evidenciam a predominância de uma alimentação focada na redução e não na eliminação completa deste alimento, seja por motivos pessoas, como saúde, ou por fatores externos, como preço. Entre todos os tipos de alimentos analisados, a carne bovina é o que as pessoas mais têm reduzido”, afirma o GFI em sua Pesquisa do Consumidor GFI Brasil 2022.
Um outro estudo realizado pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) em 2021, encomendado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), apurou um número próximo: 46% dos brasileiros deixaram de comer carne por vontade própria ao menos uma vez na semana.
Benefícios ambientais
Para Vanessa Giangiacomo, head de Marketing da NotCo, foodtech global e referência de alimentos à base de plantas, quando removemos o animal das refeições, não estamos apenas ajudando os animais em si, mas também retirando todas as partes ruins da produção de alimentos: consumo de água, emissão de carbono, pressão sobre o espaço de terra e desmatamento. “É assim que realmente movemos a agulha e fazemos uma mudança, que pode acontecer por meio de ações sutis na rotina alimentar.”
Para Saulo Marti, CMO da Diferente, foodtech de assinatura de alimentos orgânicos, o mercado de proteínas alternativas, feitas a partir de plantas, deve crescer quase 70% nos próximos seis anos, movimentando mais de US$ 28 bilhões globalmente, de acordo com a empresa de pesquisas de mercado Meticulous Market Research. Enquanto isso, o mercado de alimentos orgânicos pode alcançar a marca de R$ 7 bilhões em 2023. “A pandemia acelerou esse mercado e, hoje, a preocupação ambiental se soma à preocupação com a saúde. As pessoas estão consumindo mais orgânicos e, inclusive, dispostas a pagar mais por eles”, afirma Marti.
Mudança de hábito
Segundo a nutricionista Fernanda Larralde, especializada em Nutrição Esportiva, Saúde da Mulher e Fitoterapia, as mudanças de hábitos partem de algo ainda maior. “O que leva as pessoas a mudarem o estilo de vida, principalmente em relação a alimentação está muitas vezes associada a uma ideologia, seja a preocupação com os animais e o meio ambiente, a influência de familiares, motivos religiosos ou espirituais e, em alguns casos, isso ocorre em decorrência de alguma condição clínica. Porém, cada uma delas tem o seu valor e peso individual,” afirma Larralde, que também é parceira da Bio Mundo, rede de lojas de produtos naturais e nutrição esportiva.
A carne vermelha destaca-se por proporcionar ferro e vitamina B12, dois nutrientes cuja deficiência no organismo humano pode causar anemia. A nutricionista pondera que parar de comer carne tem suas vantagens e desvantagens. No caso do ferro, o chamado ferro heme (Fe 2+), também chamado de ferro ferroso ou orgânico, ele é encontrado apenas em alimentos de origem animal, como carnes, aves e frutos do mar, a partir da hemoglobina e da mioglobina provenientes desses produtos. “Por isso é necessário um acompanhamento nutricional”, recomenda.
Por outro lado, a escolha por não consumir carne pode contribuir para reduzir os riscos de doenças cardiovasculares, emagrecimento, diminuição do colesterol, melhora da microbiota intestinal, entre outros. o maior desafio é não só deixar de consumir a carne, mas saber escolher o melhor alimento para substituir e compor a necessidade nutricional diária.
“É importante abrir o leque alimentar e investir em leguminosas, como a soja, a lentilha, a ervilha e o grão-de-bico, que são úteis na tarefa de ingerir proteínas. Além disso, é importante incluir cereais integrais, hortaliças, cogumelos, algas e, claro, gorduras saudáveis como a do azeite de oliva, sementes e oleaginosas. E para facilitar a absorção do ferro contido nos legumes, a recomendação é incluir na refeição uma fonte de vitamina C, que pode ser uma fruta cítrica como a laranja, o limão, a acerola e o morango,” finaliza Fernanda.