- A Terramazônia, sediada em Manaus (AM), realizou estudos focados em bioativos de alta importância nutricional – os nutracêuticos – e desenvolveu pó proteico para a indústria alimentícia e varejo;
- No centro das inovações está a proteína obtida a partir de resíduos da castanha do Brasil, que contém selênio, bom para a imunidade e anti-inflamatório, além de ser uma nova fonte de proteína vegana para o mercado.
- Projeto recebeu investimento do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) que repassa investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para o desenvolvimento da Amazônia.
- Foto: Reserva do Desenvolvimento Sustentável de Uatumã (AM)
Entre as inovações vindas da biodiversidade amazônica surge a proteína em pó obtida a partir de resíduos da castanha do Brasil. O projeto foi desenvolvido pela startup Terramazônia, sediada em Manaus (AM), com o objetivo de oferecer uma nova fonte de proteína vegana para o mercado, hoje dependente especialmente da soja, ervilha, milho e arroz. Além disso, proporciona impacto socioambiental positivo às cadeias econômicas da floresta.
Além da origem regional, o produto contém selênio, bom para a imunidade além de anti-inflamatório. Segundo o pesquisador e farmacêutico Emerson Silva Lima, à frente do projeto e da startup, a castanha tem sabor bem mais agradável em relação às demais proteínas vegetais. Outro diferencial é o uso de resíduos do beneficiamento da castanha-do-brasil nas agroindústrias, que são sobras normalmente descartadas ou vendidas na forma de farinha com baixo valor comercial.
O projeto foi desenvolvido após Emerson Lima realizar por duas décadas pesquisas acadêmicas com extratos de plantas amazônicas com finalidade farmacêutica. O foco então passou a ser bioativos de alta importância nutricional, os nutracêuticos, com transformação em pó proteico para vendas à indústria alimentícia e varejo.
Negócios inovadores em bioeconomia
A iniciativa da Terramazônia compõe o portfólio de investimentos do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) – política pública da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) que mobiliza o repasse de recursos obrigatórios de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) como contrapartida das empresas pelos benefícios fiscais. Em quatro anos, a iniciativa reúne mais de 30 empresas investidoras, com previsão de atingir neste ano o marco de R$ 100 milhões em repasses para negócios inovadores em bioeconomia, com fortalecimento de cadeias produtivas na Amazônia.
“Ser vegano, optar por alimentação saudável e consumir suplementos que ajudam nas atividades físicas podem contribuir para aumentar a renda local e manter a floresta em pé”, afirma Paulo Simonetti, líder de captação e relacionamento com o investidor do PPBio. A iniciativa é coordenada pelo Idesam, organização da sociedade civil que faz a ponte entre empresas investidoras e startups.
“Na estratégia desenvolvida para o funcionamento PPBio, as proteínas veganas de origem amazônica são de extrema importância, mobilizando a busca do melhor conhecimento disponível na academia para aplicação em soluções comercialmente viáveis”.
Carlos Koury, coordenador do programa e diretor de inovação em bioeconomia do Idesam,
No caso do projeto da Terramazônia, o objetivo principal do repasse é o enriquecimento do produto na concentração proteica necessária ao consumo, com fornecimento a grandes indústrias alimentícias para uso, por exemplo, em bebidas lácteas. “Já chegamos a teores de até 60% e agora fazemos o controle para a estabilidade do produto com fins industriais”, revela o empreendedor.
Proteína genuinamente brasileira
Como primeira proteína vegana com castanha-do-brasil do mercado, o plano é – além da venda para indústrias – expandir a novidade diretamente ao consumidor via marketplace, a exemplo do que já faz a startup com a comercialização de blends de açaí em pó e outros frutos, no total de 30 produtos.
“Precisamos de fontes de proteína vegana genuinamente brasileiras”, defende Lima, na expectativa de novos investimentos para a montagem da estrutura própria de beneficiamento, após a validação da tecnologia com a castanha, de olho no mercado externo. No mundo, o mercado de proteína vegana em pó poderá alcançar US$ 8,03 bilhões até 2029, segundo relatório exclusivo da consultoria Meticulous Research.
Ao mesmo tempo, as proteínas alternativas – ao lado dos bioplásticos, enzimas e biocombustíveis, por exemplo – compõem o quadro das principais tecnologias para promover a descarbonização do Brasil, conforme estudo inédito da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI). De acordo com o levantamento, o uso sustentável de recursos biológicos é fundamental para atender tanto as metas climáticas mais restritivas quanto o desenvolvimento econômico do país: a bioinovação tem potencial de injetar mais US$ 284 bilhões ao ano na economia brasileira. Para tanto, diz o estudo, é necessário um investimento da ordem de US$ 45 bilhões.
Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) – É um mecanismo da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) voltado ao repasse de investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para o setor, com base nos recursos obrigatórios da Lei de Informática. A iniciativa é coordenada pelo Idesam, a quem cabe promover ações de divulgação, articulação institucional e avaliação das propostas das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), startups, universidades, incubadoras e aceleradoras de negócios inovadores habilitadas para receber recursos no âmbito dos requisitos das atividades do Comitê de Pesquisa e Desenvolvimento na Amazônia (Capda), da Suframa, em benefício de toda a sociedade. Para as empresas de informática do Polo Industrial de Manaus (PIM), o PPBio é uma alternativa descomplicada de investimento da contrapartida dos incentivos fiscais para o desenvolvimento regional, sem risco de glosa ou multas por aplicação indevida de recursos. O programa possui um banco de tecnologias que atuam em diversas cadeias produtivas amazônicas, buscando o match entre as demandas do investidor e dos projetos, com impacto socioambiental positivo na Amazônia.